sábado, 31 de dezembro de 2011

PARA TODOS OS SEGUIDORES DA BIROSCA DO MACHADO NA VIRADA DO ANO DESEJO O ESPÍRITO GENIAL DA PANTERA COR DE ROSA. FELIZ ANO NOVO.

sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

UMA IDÉIA NOVA PARA O POVO BRASILEIRO


Lei de Reforma do Congresso de 2012 (emenda da Constituição do Brasil)

1. O congressista receberá salario somente durante o mandato. E não
terá direito a aposentadoria diferenciada em decorrência do mandato.

2. O Congresso contribui para o INSS. Todo o fundo (passado, presente
e futuro) atual no fundo de aposentadoria do Congresso passará para o
regime do INSS imediatamente. O Congressista participa dos benefícios
dentro do regime do INSS exatamente como todos outros brasileiros. O
fundo de aposentadoria não pode ser usado para qualquer outra finalidade.

3. Congressista deve pagar para seu plano de aposentadoria, assim como
todos os brasileiros.

4. Congresso deixa de votar seu próprio aumento de salário, que será objeto de plebiscito.

5. Congressista perde seu seguro atual de saúde e participa do mesmo
sistema de saúde como o povo brasileiro.

6. Congressista está sujeito às mesmas leis que o povo brasileiro..

7. Servir no Congresso é uma honra, não uma carreira. Parlamentares
devem servir os seus termos (não mais de 2), depois ir para casa e
procurar emprego. Ex-congressista não pode ser um lobista.

8. Todos os votos serão obrigatoriamente abertos, permitindo que os
eleitores fiscalizem o real desempenho dos congressistas.

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

PENSAMENTO DO DIA

"O AMOR É UMA PALAVRA PEQUENA
UMA COISA A TEMPO PARCIAL
UM ANEL DE PAPEL"
(Johnny Cash)

Hurt Johnny Cash Tradução

Johnny Cash - Help Me ( Tradução Português )

PREVISÕES PARA 2012


Já que tem tanta gente fazendo previsões para 2012
Aqui vai a minha..
Dale feriadões..
Em 2012, não contando as paradas já programadas como Carnaval, Paixão de Cristo e Corpus Christi, o brasileiro vai poder aproveitar
o Dia do Trabalho (terça-feira),
o da Independência (sexta-feira),
de Nossa Senhora Aparecida (sexta),
de Finados (sexta),
da Proclamação da República (quinta-feira)
e, se o mundo não acabar em 21/12 – que também cai numa sexta –, vamos ter ainda Natal e Réveillon com direito a fins de semanas esticados até terça-feira.
Querem mais?

domingo, 25 de dezembro de 2011

PENSAMENTO DO DIA

Só no amor verdadeiro encontramos o sono generoso.

A VÍBORA E A HIDRA

Uma víbora ia regularmente beber água numa fonte. Mas uma hidra tinha feito ali sua morada e resolveu proibir-lhe o acesso:
- Aqui é meu domínio, a víbora que se contente com o seu.
O conflito chegou a tal ponto que elas decidiram se enfrentar. Quando chegou o dia da luta, as rãs, que detestavam a hidra, foram ao encontro da víbora para encorajá-la e lhe prometeram combater a seu lado. A luta começou. Enquanto a víbora enfrentava a hidra, as rãs, incapazes de fazer qualquer coisa, coaxavam até mais não poder. Vitoriosa na luta, a víbora lhes repreendeu a conduta: "Vocês tinham prometido lutar comigo, mas, em vez de me ajudar, ficaram cantando!"
"Saiba", responderam elas, "que é com a voz e não com os braços que nós ajudamos nossos aliados".
QUANDO PRECISAMOS DE FORÇA, AS PALAVRAS NÃO SERVEM PARA NADA.
(ESOPO - século VI a. C.)

É SÓ PROPAGANDA

O otimismo do governo, com relação ao crescimento do Brasil, com uma melhor distribuição de renda é pura propaganda. Pelo menos, é o que demonstra o último Censo Demográfico realizado pelo IBGE.
As desigualdades teimam em continuar bastante acentuadas.
A distribuição geográfica da população brasileira é assustadora, dos 190 milhões de habitantes, 84,4% residem nas cidades e 15% no campo. Aqui podemos verificar o fenômeno da concentração de terras em mãos de poucos.
Mais de 44% da renda nacional está nas mãos de 10% da população, e 1,1% da renda é disputada, a tapas, entre os 10% mais pobres dos brasileiros.
Os homens, em funções iguais as das mulheres, recebem salários 42% a mais.
As diferenças salariais entre brancos e negros são constrangedoras, brancos e amarelos recebem em média R$ 1.538,00, já os negros e pardos, recebem em média R$ 834,00.
O Censo também aponta que a população negra e parda, agora, são maioria, 50,7% da população brasileira.
O governo brasileiro tem que trabalhar mais para diminuir as diferenças e fazer menos propaganda.

sábado, 24 de dezembro de 2011

A TODOS OS SEGUIDORES DA BIROSCA DO MACHADO

Que nesta data, 25 de dezembro, arranjada pelos interesses de alguns poucos homens, nos seja proporcionado momentos de reflexão, acima de tudo, das ilusões e surpresas da vida.
É necessário acreditar e impor muito além da razão, que agregar forças e trabalharmos juntos, pela concretização do bem comum, os 365 dias do ano, todos os anos, é o que realmente importa. O homem foi criado para o amor, à serviço da ternura. Ele, não é nenhum predador por natureza, se faz predador ao longo da vida apenas para obter privilégios fugazes.
Vamos juntos pensar, neste natal, que todos somos iguais perante Deus, e que Ele quer nos ver seus iguais. Este exercício é o mais saudável de todos os existentes na Terra e na vastidão do Universo.
Vamos pensar neste natal, nas pessoas que cansadas de tudo, não tem nem onde ficar.
Nas pessoas que morrem de fome.
Nas pessoas que precisam da nossa ajuda e compreensão.
Que neste Natal, aquilo que tudo fica a nossa espera, possamos encontrar a partir deste momento.
DO AMOR, DA TERNURA, DA SOLIDARIEDADE E DA IGUALDADE QUERO A COMPANHIA.

domingo, 18 de dezembro de 2011

UM SONORO NÃO A BELO MONTE



Antes de mais nada, esses versos

São pra dizer à Consciência Nacional

Que o verdadeiro Ordem e Progresso

Se principía no respeito ambiental

Dizer “não” à projetos impactantes

Que agridem os Filhos dessa Nação

É ser contra iniciativas degradantes

Que só trazem vantagens pra patrão

Belo Monte, projeto sujo faraônico

Irá produzir gás metano também letal

Ene vezes mais nocivo que o carbônico

Piorando mais o aquecimento global

E diante desse projeto degradativo

Povos da nossa amazônica região

Apresentam infinidades de motivos

Pra dizerem claramente sonoro “não”

Além dos desassossegos terríveis

Provocados por essa mega construção

Ela trará Impactos Irreversíveis

Nos rios, na fauna, na vegetação

Belo Monte um projeto tão perverso

Que agredindo os Movimentos Sociais

Já enfrenta toneladas de processos

Inclusive em Cortes Internacionais

Em torno do rio Xingu têm etnias

Gente linda, guerreira, de bem

Que vive sem aquela maldita mania

De tá cobiçando algo de alguém

Gente amiga dos rios, das matas

Ao contrário de uma raça chacal

Reacionária, nojenta, tecnocrata

Sanguessugas no Planalto Central

A gente do Xingu que hoje clama

Contra esse monte de complicação

Jamais se envolveu em mar de lama

do IBAMA, de cuecas, de mensalão

O próprio Xingu irmão dos ventos

Vive hoje cheio de preocupação

Vendo peixes, principal alimento

Com risco de diminuiçao, extinção

O Xingu das Comunidades Primitivas

Vê o governo negando a participação

De Lideranças Indíginas nas OITIVAS

“a obrigatória mesa de negociação”

Negando a participação de lideranças

A respeito da faraônica construção

Governo comete outra grande lambança

Contra os históricos donos desse chão

E a Estrela Vermelha que no passado

Foi tão defensora da causa ambiental

Hoje em caravana caminha lado a lado

Com empreiteiras companheiras do capital

Caminhando lado a lado com empreiteiras

Cujo compromisso é poluir, devastar

Tal Estrela comete as mesmas sujeiras

Políticas do período de regime militar

Ah, Vermelha, ex Estrela libertária

A poesia hoje tristemente te vê

Caminhando com gentalha reacionária

É uma pena que o poder cegou você

Os verdadeiros amigos do rio, da mata

Sabem que o belo monte de enganação

Longe de gerar energia limpa e barata

Irá levar super tarifa pra população

Aqui temos os maiores especialistas

Gente que entende de Constituição

E temos os nativos ambientalistas

Que sabem tudo sobre essa região

Gente que quer viver tranquilamente

No direito divino do USOCAPIÃO

E que é conhecedora perfeitamente

Dos riscos de catastrófica inundação

Que deixem o rio Xingu e suas matas

Lá no lugar devido, recanto da paz

E façam usinas onde o raio parta

Os gabinetes burocratas ministeriais

Que o IBAMA fiscalize as muitas tramas

em torno de si e dessa suja construção

e busque interferir nos rios de lamas

nas beiradas da negociata, corrupção

Jetro Fagundes

Farinheiro Marajoara


--

sábado, 17 de dezembro de 2011

DEUS SEGUNDO SPINOZA


*Retrato de Baruch de Spinoza, aproximadamente de 1665.*

*
“Pára de ficar rezando e batendo o peito! O que eu quero que faças é que
saias pelo mundo e desfrutes de tua vida. Eu quero que gozes, cantes, te
divirtas e que desfrutes de tudo o que Eu fiz para ti. *
*Pára de ir a esses templos lúgubres, obscuros e frios que tu mesmo
construíste e que acreditas ser a minha casa.*
*Minha casa está nas montanhas, nos bosques, nos rios, nos lagos, nas
praias. Aí é onde Eu vivo e aí expresso meu amor por ti.*
*Pára de me culpar da tua vida miserável: Eu nunca te disse que há algo
mau em ti ou que eras um pecador, ou que tua sexualidade fosse algo mau.*
*O sexo é um presente que Eu te dei e com o qual podes expressar teu amor,
teu êxtase, tua alegria. Assim, não me culpes por tudo o que te fizeram
crer.*
*Pára de ficar lendo supostas escrituras sagradas que nada têm a ver
comigo. Se não podes me ler num amanhecer, numa paisagem, no olhar de teus
amigos, nos olhos de teu filhinho... Não me encontrarás em nenhum livro!*
*Confia em mim e deixa de me pedir. Tu vais me dizer como fazer meu
trabalho?*
*Pára de ter tanto medo de mim. Eu não te julgo, nem te critico, nem me
irrito, nem te incomodo, nem te castigo. Eu sou puro amor.*
*Pára de me pedir perdão. Não há nada a perdoar. Se Eu te fiz... Eu te
enchi de paixões, de limitações, de prazeres, de sentimentos, de
necessidades, de incoerências, de livre-arbítrio.

Para não deixar cair no esquecimento...lembra?

"O que são um milhão de dólares comparado ao amor de oito milhões de cubanos."
Esta frase é de Teófilo Stevenson, boxeador cubano, com várias medalhas de ouro nos Jogos Olímpicos e que recusou U$ 5 milhões de dólares, para lutar contra Muhamed Ali. Esculachando com os americanos do norte ao exaltar a importância de sua nação, Cuba.
Teófilo Stevenson foi Tricampeão Olímpico dos pesos pesados, sendo considerado o maior boxeador não profissional de todos os tempos. Tinha 1,90 de altura e pesava 93 kg.

O contexto africano nas relações internacionais




Por Rafael Balseiro Zin

Em artigo recente sobre o continente africano e as relações internacionais, Sebastien Kiwonghi, um renomado especialista, argumentou que as consequências da descolonização na África são muitas, considerando em primeiro lugar a questão das fronteiras classificadas de “artificiais” por separar, às vezes, povos da mesma língua e da mesma cultura. Além disso, do ponto de vista econômico, os novos Estados são fracos e precisam ainda das metrópoles para sua sobrevivência, bem como na área securitária. Mais adiante, propõe que as outras consequências se referem aos conflitos territoriais oriundos da busca de hegemonia de alguns países com a pretensão de anexar alguns territórios ricos em recursos naturais. Contudo, esses argumentos todos evidenciam um cenário complexo em um continente que desperta a curiosidade de estudantes e pesquisadores e que evidencia, antes, um grande desconhecimento por parte da população em geral sobre as novas possibilidades de atuação da África no contexto político mundial, que se anunciam nesse início do século XXI.

Novas perspectivas

O continente africano vive hoje novas perspectivas com relação às possibilidades de inserção nas relações internacionais. No entanto, os países que compõem o bloco possuem uma série de dilemas e conflitos que dificultam sua atuação quando o assunto é política externa. E esse fenômeno se comprova por inúmeras razões. Ao mesmo tempo em que ocorre um avanço gradual nos processos de democratização dos regimes políticos – mesmo sabendo que partidos políticos são raros e que a autorrepresentação prevalece – há uma concentração de conflitos armados internos. Mesmo vivendo hoje um forte crescimento decorrente das políticas macroeconômicas, a África ainda é palco de uma dicotomia latente entre uma elite fortemente abastada e uma população um tanto empobrecida. Isso tudo, consequentemente, evidencia uma série de contradições intrínsecas ao continente africano. Em outras palavras, é possível dizer que, mesmo com grandes avanços, a África ainda é refém de questões internas e que são empecilhos que podem e precisam ser solucionados para uma maior e melhor atuação no contexto internacional.

Comparações

Nos países que compõem o continente africano persiste, ainda hoje, uma ideia concreta de que nunca serão bons o suficiente. Isso, pois, existe uma constante comparação com o mundo ocidental – em parte reflexo do complexo colonial bastante presente no continente. Não obstante, a enormidade de matrizes etno-religiosas é um agravante que impinge as marcas da oralidade e da pluralidade na cultura africana. Além disso, em sua grande maioria, são países que funcionam com redes pessoais e de lealdade. Outro fator complicador é a maneira como os países se apresentam nas grandes questões internacionais. Mesmo tendo alguma representatividade na ONU, acabam por não exercer forte influência nas decisões internacionais, com o objetivo de não entrar em conflito direto com os demais países que, porventura, possam se tornar futuros parceiros políticos e econômicos. Em linhas gerais, todas as características aqui elencadas mostram os atuais e principais dilemas que atravancam a inserção internacional africana.

Potência africana

No Brasil, especificamente, existem dois eixos centrais que permeiam o relacionamento com o continente Africano e que devem ser observados. Por um lado, temos a interpretação dominante dos meios de comunicação de massa, de uma parcela de empresários duvidosos e de alguns setores do universo acadêmico que falseiam uma imagem constantemente trágica e inelutável e que subjulga a potência africana. Por outro, no âmbito de Estado e das relações internacionais, temos uma crescente relação comercial em setores como o de energia, tecnológico-científico e agrícola. De qualquer maneira, no Brasil ainda se mantém uma errônea ideia a respeito do futuro do continente africano com base em argumentos enviesados e que se repetem com certa regularidade. Os meios de comunicação de massa, por exemplo, insistem em criar a imagem de uma África ditatorial e inerte aos problemas sociais de seus países. O setor empresarial brasileiro, mesmo acumulando ganhos comerciais nas relações entre Brasil e África, ainda duvidam das possibilidades comerciais com o continente de forma mais duradoura. Isso se torna um problema, ao mesmo tempo em que é parte de um processo crescente de parceria e cooperação internacional. E essa contrapartida pode ser observada na atual conjuntura entre os dois países. O Brasil foi um dos primeiros países do mundo a ter embaixadas na África. Além disso, a Embrapa, por exemplo, tem realizado um importante trabalho de auxilio na implantação de novas tecnologias agrícolas, o que permite maior autonomia na produção interna e fortalecimento do continente frente ao contexto global. De modo geral, é possível afirmar que o grande problema brasileiro com relação aos países africanos é que as tragédias e genocídios ainda são mais evidenciados do que as experiências de estabilização e crescimento econômico possibilitadas, inclusive, pela cooperação do Brasil com o continente africano.

Autoconfiança

Atualmente, no contexto das relações internacionais, a África caminha mais autoconfiante – fato este que traz novas possibilidades de atuação política externa. Mesmo tendo, ainda, baixa representatividade mundial e mesmo mantendo certa dependência direta dos países europeus (e agora da China), apesar do grande número de países que compõem o continente, as recentes iniciativas políticas internas e culturais chamam a atenção da comunidade estrangeira para o renascimento africano. Até porque, a África em números não é pouca coisa. Estamos falando de aproximadamente um quarto da superfície do planeta, com um território de 30 milhões de quilômetros quadrados e cerca de 10% da população global e que deverá dobrar até 2050. Dessa maneira, a África vem sendo escolhida como parte das prioridades para novas áreas e carteiras de empréstimos do Banco Mundial. Não obstante, agentes internacionais econômicos e estratégicos querem dividir cada vez mais seus balanços e projeções, a fim de alcançar novos mercados para a expansão da economia mundial. Essa conjuntura, portanto, mostra que existem razões para o otimismo em todas as regiões da continente, o que revela a existência de uma África em crescente internacionalização e nada marginal.



Rafael Balseiro Zin cursa Sociologia e Política na Escola de Sociologia e Política de São Paulo

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

O CORVO E A SERPENTE

Um corvo faminto viu uma serpente que dormia ao sol. Lançou-se sobre ela e a levou pelos ares. Mas a serpente tanto se retorceu que conseguiu picá-lo. Quando estava morrendo, o corvo exclamou:
- Pobre de mim, que encontrei a morte em achado tão belo!
Se descobrires um tesouro, cuidado com a tua vida.
(ESOPO - século VI a. C.)

sábado, 10 de dezembro de 2011

O PORTUGUÊS E O MERCADO DE LÍNGUA

O Brasil ocupa, hoje, a 7ª posição entre as maiores economias do mundo. Com seu território continental, é o 5º maior país e o 5º em população. Com nossos mais de 190 milhões de falantes, o português brasileiro é a 3ª língua mais falada do Ocidente, atrás somente do espanhol e do inglês. No entanto, nossos governantes até hoje não despertaram para a relevância das línguas no atual mercado globalizado. O português brasileiro cresce de importância no mundo por pura inércia, arrastado pela projeção do país no cenário mundial. Embora tenhamos 85% dos falantes de português no mundo, não temos nenhuma política linguística sistematizada, planejada, para tornar nossa língua um bem de exportação capaz de fazer aumentar ainda mais o nosso PIB. Já Portugal, cinquenta vezes menos que o Brasil e com uma população inferior à da cidade de São Paulo, tem 17% de seu PIB constituído por produtos linguísticos. Na comparação, perdemos de longe para os portugueses, que são há muito tempo muito mais agressivos na promoção de sua língua no exterior. Na UNAM, a Universidade Autônoma Nacional do México, está o maior contingente de aprendizes de português no mundo e tudo levaria a crer que o português brasileiro seria o objeto de desejo dos mexicanos. No entanto, o Instituto Camões, órgão oficial da política linguística portuguesa, ocupa um andar inteiro no centro de línguas da UNAM, enquanto o português brasileiro não recebe nenhum apoio institucional oficial e são os professores brasileiros no exterior que são obrigados a se desdobrar para levar adiante a difusão da nossa língua.
O Brasil poderia muito bem ocupar, no tocante à língua portuguesa, o mesmo papel que ocupam os Estados Unidos no tocante ao inglês. Existe uma Commonwealth, comunidade internacional de países de língua inglesa, da qual os Estados Unidos não fazem parte. Apesar disso, o inglês que impera no mundo é o inglês americano, por razões mais do que óbvias, sem dar a mínima bola para a política linguística do Reino Unido, que também é forte. O Brasil, no entanto, assume uma postura colonizada, de subserviência às decisões linguísticas de Portugal. Por exemplo, os livros didáticos brasileiros continuam estampando até hoje uma norma-padrão abissalmente distante do verdadeiro português brasileiro urbano culto. A ridícula proibição de começar frase com pronome oblíquo só existe porque os portugueses não falam assim. Resultado: 192 milhões de pessoas são obrigadas a seguir uma regra que é natural, espontânea, intuitiva para meros 9 milhões e meio que vivem do outro lado do Atlântico. Ninguém precisa proibir os portugueses de começar frase com pronome oblíquo: a fonologia da língua deles não permite isso, ao contrário da nossa.
O futuro do português no mundo depende do Brasil, mas para isso é necessário empreender pelo menos duas ações bem planejadas e executadas: abandonar a ideia jurássica de que só os portugueses falam bem a língua e reconhecer a legitimidade das opções genuinamente brasileiras de uso da língua, que é tão nossa quanto dos portugueses e até mesmo, se levarmos em conta a população, muito mais nossa do que deles!

Por Marcos Bagno - Línguista, escritor e professor da UNB

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

O PENSAMENTO DO DIA

Não há nada mais bonito do que ser independente...não há nada mais sozinho do que ser inteligente. (Sérgio Sampaio)

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

USP em ritmo (crônico?) de barbárie




Por Osvaldo Coggiola

O conflito da USP se encaminha para um mês e meio de duração, desde o pôr do sol de 27 de outubro em que três estudantes foram detidos pela PM paulista, num pátio interno da FFLCH, por suposta posse ou uso de maconha. Com a proximidade das férias escolares, sai, portanto, de sua fase aguda para entrar em fase crônica.

O conflito não opõe a “comunidade universitária” (essa image d´Épinal) ao Reitor designado pelo governo estadual, ou a órgãos do Estado (a PM), toda vez que parte significativa dessa comunidade, um informal, mas relativamente articulado, “partido da ordem”, manifestou-se, de maneira nem sempre passiva, em apoio a esse Reitor e à ação da PM, inclusive nos seus aspectos violentos (que, segundo denúncias, incluíram torura de uma estudante que era apenas testemunha dos fatos na madrugada em que a PM investiu na Reitoria ocupada, em 8 de novembro, lançando também bombas e bloqueando com violência os dormitórios estudantis).[1]

Na USP Bauru, cartazes com os dizeres “Fora Rodas” e “Não à Censura” foram destruídos no campus universitário, onde a fixação de cartazes do movimento grevista está proibida.

73 estudantes, ou membros da comunidade que frequentam a USP (coisa que não deveria escandalizar ninguém, pois, além de se tratar de prédios públicos, essa frequentação acontece desde que existe a Cidade Universitária, ou desde que a universidade é universidade) foram presos e estão agora submetidos a processos na justiça comum. Somam-se eles a algumas dezenas de estudantes e funcionários que já eram objeto de processos internos à USP, incluídas demissões e jubilações.

Não é preciso lembrar da ação violenta da PM (Tropa de Choque) a 9 de junho de 2009, quase no mesmo local das detenções de outubro recente, quando estudantes, professores e funcionários tiveram sua integridade física posta em risco e agredida, com bombas de efeito moral e gás lacrimogêneo. Para a última desocupação da reitoria foram utilizados 400 homens da Tropa de Choque, sem identificação em seus uniformes, dois helicópteros, cavalaria e viaturas, com apoio do Grupo de Operações Especiais (GOE). Parecem agora ironia os dizeres dos cartazes espalhados pela USP logo depois daquele 9 de junho de 2009: “PM Nunca Mais!”.

Com relação à greve estudantil (certamente parcial, como todas as precedentes) e à ocupação, o reitor João Grandino Rodas deu o tom: “Não se trata realmente de um grupo estudantil. Mas é um grupo partidário, minoritário, radical e violento”. A equiparação dos quatro termos deixa concluir que, para este jurista, “partidário” (isto é, pertencente a partido, sem o qual – os quais – não existe democracia concebível) e “violento” (no sentido, obviamente, criminal) seriam decorrências um do outro, ou simplesmente sinônimos. O título passavelmente messiânico de uma entrevista por ele concedida a O Estado de S. Paulo (“A sociedade paulista está farta de ocupações”) reforça a sua aparente auto-imagem de cruzado (estadual?) da causa da “ordem”.

À Rádio Bandeirantes, o reitor afirmou, em 2010, que a USP se encontrava em situação equivalente à dos "morros do Rio" e que requeria uma intervenção como a do exército brasileiro no Haiti, que, lembremos, levou ao suicídio seu comandante militar. Um reitor da USP não deveria ignorar que são numerosas as denúncias de estupros e assassinatos cometidos pelas forças de ocupação do Haiti.

Quanto às favelas do Rio, elas têm agora polícia, mas não serviços essenciais. O deputado estadual Marcelo Freixo foi obrigado a abandonar o país com sua família para evitar seu assassinato, pois havia denunciado a atividade de máfias dedicadas ao comércio de drogas em cumplicidade com políticos, policiais, ex-policiais, militares aposentados e até bombeiros. A ocupação militar das favelas não obedece a uma suposta “luta contra o narcotráfico”, apesar da detenção de Antonio Lopes Bonfim, o “Nem”, bandido da Rocinha: “No existe um lugar com narcotráfico em que não se pague à polícia. Uma parte muito grande do que faturava ‘Nem’ ia parar na polícia. E eles protegiam ao narcotraficante”, disse Freixo.

O controle do território já não é primordial para o narcotráfico. Foram criadas, há muito tempo, redes de distribuição mais operativas, de maior eficácia e menor custo. Os modernos bandos têm sua atividade principal no tráfico de drogas, mas também controlam o negócio do transporte alternativo, redes de gás, sinais de televisão, e até empréstimos de dinheiro (porque o reitor Rodas não investiga os agiotas que atuam na USP, com forte preferência pelos funcionários da universidade?).

O objetivo da ocupação militar das favelas cariocas não é a luta contra o narcotráfico, não é uma “guerra” contra as máfias e por isso não se tem disparado um só tiro. Somente se trata de estabelecer um cordão de segurança que permita o investimento de capitais privados com vista aos Jogos Olímpicos e o Mundial de Futebol. O narcotráfico, como a prostituição, fará grandes negócios durante os Jogos e durante o Mundial, cuja “segurança” é usada como pretexto para fazer das favelas uma zona de guerra, militarmente ocupada.

Durante a ocupação da Reitoria, foi comum ver o reitor Rodas na TV anunciando repressão e punições aos ocupantes com base no Estatuto da USP, de 1972 (o estatuto baseia-se nos preceitos da ditadura militar, e tem muita coisa redigida por Gama e Silva, o mesmo personagem que escreveu o AI5), e na lei comum, transmitindo a imagem de um agente do Estado incumbido de uma missão “normalizadora”, e não a do titular de uma entidade autárquica e autônoma. Anunciava, assim, a ação da PM de 8 de novembro. No mesmo momento, um relatório da Ouvidoria da Polícia de São Paulo apontou que mais de uma pessoa foi morta por dia em São Paulo por um policial militar entre 2005 a 2009, batendo recordes precedentes. [2]

O balanço das duas últimas gestões da USP (reitores Suely Vilela e João Grandino Rodas) terá sido o do incremento da insegurança individual na USP, e o de uma centena de estudantes e funcionários submetidos a punições e processos internos ou externos, um recorde latino-americano. [3] 25 estudantes estão ameaçados de expulsão, com base em um artigo estatutário (de 1972...) que proíbe a difusão de idéias políticas na USP. Em 2007, lembremos, os estudantes mantiveram a reitoria ocupada por quase dois meses devido aos decretos do governador José Serra que tolhiam a autonomia universitária (os decretos, como se sabe, foram abolidos).[4]

Logo depois, a Reitoria designou um investigador de polícia como diretor de segurança da USP. No período decorrido desde então, a USP passou a frequentar de modo sistemático as listas ou rankings das 100 ou 200 melhores universidades do planeta, à frente também de suas pares da América Latina, em grande parte devido à enorme produção da FFLCH, responsabilizada, porém, como abrigo de traficantes e usuários de drogas (como se estes não existissem em todos os segmentos da sociedade, incluídas várias “respeitáveis” outras unidades da USP), de criminosos e crimes (que, em geral, não acontecem na FFLCH) e de grupos de “baderneiros irresponsáveis” (uma categoria também questionável, pois, em geral, os vândalos têm objetivos bastante claros e conscientes).

A ação, ou melhor, as ações recentes da PM se ampararam em convênio assinado a 8 de setembro passado entre a Reitoria da USP e a Secretaria de Segurança Pública do Estado, publicado no Diário Oficial de 15 de setembro de 2011, motivado pelo assassinato brutal de um estudante por um grupo de criminosos (na FEA-USP, não na FFLCH). Quando foi assassinado o estudante Felipe Ramos de Paiva, a 18 de maio, a PM já estava no campus, revistando carros de estudantes.

O convênio estabelece (cláusula quarta, inciso II, ítem c) a obrigação de “promover... campanhas educativas permanentes junto aos três segmentos da comunidade universitária, visando difundir procedimentos informativos e de conscientização em questões de segurança”, campanhas que ninguém viu o “sentiu”, a não ser que se considere que intimidação (segundo documento do CEUPES, “os policiais têm feito perguntas que dizem respeito à vida acadêmica e às opiniões políticas dos estudantes, tais como “você está matando aula?”, “você é contra a presença da PM no campus?”), exigência inconstitucional de porte de documentos, ameaças com armas portadoras de projéteis calibre 12 milímetros e espancamento de jovens doentes e indefesas constituem procedimentos educativos (e, se assim for, admita-se ao menos o caráter discutível de tal afirmação, e abra-se debate a respeito).

Na mesma cláusula, inciso I, ítem e, estabelece-se a obrigação (da PM) em “consultar previamente a USP acerca de medidas a serem adotadas em situações excepcionais”. Não sabemos se é necessário algo mais do que senso comum para considerar que o uso espalhafatoso de quase vinte viaturas policiais para apreender um pacotinho de maconha em um centro de estudos (qualquer um que tenha assistido a uma só amostra da “Cultura Ratinho”, veiculada em programas noturnos de TV, sabe que basta um par dessas viaturas para semear o terror em favelas inteiras, traficantes armados de drogas pesadas incluídos), se isso constitui, digamos, uma “situação excepcional”.

Portanto, das duas, uma: 1) A PM não cumpriu com sua obrigação de “consultar previamente a USP” (violando, portanto, o convênio); 2) A PM informou à Reitoria, mas esta não cumpriu com sua obrigação (básica, elementar, óbvia, costumeira, consuetudinária) de informar previamente à FFLCH e suas autoridades do “excepcional” procedimento em curso, como o puderam comprovar todos os membros da Congregação dessa unidade, reunidos no exato momento em que as coisas aconteciam, sob a presidência da Diretora da FFLCH. Testemunhas: todos os membros titulares (e até alguns suplentes) dessa Congregação (lista completa no site da USP).

Na sua claúsula quarta, parágrafo único, se estabelece: “Este Convênio, além da expiração natural de sua vigência [cinco anos, NDA] poderá ser rescindido por infração legal ou decumprimento de suas cláusulas, ou denunciado....etc.” (grifos nossos). Nessa altura, cada um poderia escolher qual das duas alternativas se aplica ao caso (ou as duas). As palavras do ministro Fernando Haddad - “Não se pode tratar a USP como se fosse uma cracolândia” – indicam menos um suposto “privilégio uspiano” do que a simples e óbvia percepção da tentativa de criminalização de qualquer movimento interno.

O deflagrador da resistência à imposição de uma ordem policial no campus do Butantã foi a ação do movimento estudantil. No caso da USP, esse conceito designa uma realidade de geometria variável, que engloba (se considerado tudo que se “movimenta” nesse âmbito) desde uma chapa apropriada e sinceramente chamada “Reação”, que aplaude a ação da PM e as punições contra seus colegas estudantes; o DCE, com suas várias tendências (incluído o PSTU, bête noire da “Reação”); grupos (formais ou informais) que não reconhecem a autoridade ou o marco organizativo do DCE nas assembléias gerais, supostamente devido a vícios de procedimento ou de legitimidade; grupos que não reconhecem a autoridade das próprias assembléias (gerais ou setoriais); e provavelmente grupos (ou até indivíduos) que não reconhecem a validade de suas próprias decisões a respeito deles mesmos.[5] Em que pese esta heterogeneidade, o movimento reuniu milhares de estudantes em passeatas e em longas e assembléias.

Para a primeira das correntes mencionadas, a questão da autonomia e da democracia da gestão universitária, como condição de existência da Universidade, sequer se coloca, sendo até provável que jamais tenham ouvido delas falar (a “chapa” Reação parece ter força em setores da universidade dominados pela tecnocracia vinculada às famigeradas “fundações”, com isenção de impostos e geradoras de altos lucros, crescidas ao amparo da omissão oficial). Para parte das últimas, é a questão da segurança a que se encontra fora da pauta. A passagem da resistência para uma proposta política alternativa se encontra, por isso, dificultada, se considerada também a debilidade atual do movimento docente (que, ainda assim, em assembléia, deliberou apoiar os alunos em suas reivindicações, que trazem a necessidade de democratização da USP) e dos funcionários.

Professor Emérito da FFLCH, com obra vastamente reconhecida, tentou contribuir afirmando, em artigo n´O Estado de S. Paulo, que a ação dos estudantes pouco diferia “de uma curiosa terapia coletiva à custa do dinheiro público, que depende do suporte explícito do sindicato de funcionários públicos que não têm habilitação como terapeutas”,[6] e que, diversamente dos tempos ditatoriais, “o destinatário do sonho [estudantil] é difuso, está em todos os lugares, até mesmo e sobretudo no cenário bucólico e poluído do fumacê ao lado do prédio de História e Geografia, onde o sonho e cotidianamente comercializado por traficantes e mercenários”.

Quaisquer que tenham sido as intenções do docente, está aí exposta a base, digamos assim, “epistemológica” da criminalização dos estudantes (que é bem diferente da crítica a ações realizadas por seu movimento, ou melhor, por setores deste): eles seriam culpados de prejuízo do erário público em benefício de traficantes e criminosos. “Ninguém está acima da lei”, declarou Geraldo Alckmin, governador do Estado de São Paulo, justificando a repressão.

Durante o conflito, O Estado de S. Paulo especializou-se na publicação de artigos ridicularizando o movimento estudantil pela sua comparação com aquele que lutou contra a ditadura militar (“Estudantes – da ditadura aos baseados”, publicado a 12 de novembro, ou “Os "presos políticos" da USP”, este do jurista Miguel Reale Júnior, a 3 de dezembro).

Já a Folha de S. Paulo, mais “democrática” abriu um espaço para um artigo contra a ação da PM (do Prof. Henrique Carneiro, da FFLCH), para ter o álibi para disparar artilharia bem mais pesada (e reacionária) através de um colunista permanente (por sinal, também professor): “Não é por acaso que alunos e docentes de ciências humanas aderem tão facilmente a manifestações vazias, como a recente da USP, ou a quaisquer outras, como a dos desocupados de Walll Street ou de São Paulo... Proponho que da próxima vez que os "indignados sem causa" ocuparem a faculdade de filosofia da USP, que sejam trancados lá até que descubram que não são donos do mundo..., etc.”. Isto foi escrito a 21 de novembro, duas semanas depois da ação da PM na Reitoria, e dispensa comentários pelo seu grau (elevado) de idiotice.

O jovem professor da FD-USP (e juíz), Jorge Luiz Souto Maior, considerou, ao contrário, que na desocupação da Reitoria “a utilização de todo aquele aparato de poder não se destinou apenas ao efeito da mera desocupação, ou mesmo a eliminar de vez, ou ao menos inibir, a prática do uso da maconha na Universidade.

A grandiosidade da operação, atendendo, de certo modo, a reclamos advindos de uma comoção social, proporcionada pela ingerência de parte da grande mídia, que também não mediu esforços e custos para difundir a idéia de que o prédio estava invadido (e não ocupado) por ´maconheiros´, autênticos marginais, moleques sem limites, mimados, etc, gerando uma onda assustadora de irracionalidades generalizantes, demonstra que se pretendia muito mais do que o efeito formal atingido”, ou seja, “o ato da Administração da USP, de propor a ação de reintegração de posse, não decorreu da extrema necessidade de resgatar a legalidade; tratou-se, desde o início, de uma forma de judicialização da política, para, com a obtenção da liminar da Justiça, furtar-se ao diálogo para o qual fora chamada pela ação dos estudantes, tanto que se negava a avançar nas negociações políticas, precariamente instauradas”.

A Adusp enviou pedido de audiência pública ao governador do Estado, o qual derivou a incumbência ao Gabinete do Secretário de Segurança Pública, que admitiu a reunião conquanto se indicasse previamente os nomes das até 20 pessoas (da Adusp) que participariam. A assembléia da Adusp rejeitou tal reunião, entendendo que o “desvio” da proposta original indicava a tentativa de continuar a tratar a crise da USP como uma questão de polícia (isto é, de “Segurança Pública”).

A Associação de Juízes para a Democracia (AJD), a 30 de novembro, sentiu-se “na obrigação de desvelar a sua preocupação com os eventos ocorridos recentemente na USP, especialmente em face da constatação de que é cada vez mais freqüente no país o abuso da judicialização de questões eminentemente políticas, o que está acarretando um indevido controle reacionário e repressivo dos movimentos sociais reivindicatórios... A AJD sente-se na obrigação de externar a sua indignação diante da opção reacionária de autoridades acadêmicas pela indevida judicialização de questões políticas, que deveriam ser enfrentadas, sobretudo no âmbito universitário, sob a égide de princípios democráticos e sob o arnês da tolerância e da disposição para o diálogo, não pela adoção nada democrática de posturas determinadas por uma lógica irracional, fundada na intolerância de modelos punitivos moralizadores, no uso da força e de expedientes "disciplinadores" para subjugar os movimentos estudantis reivindicatórios e no predomínio das razões de autoridade sobre as razões de direito”.

Um “Manifesto pela Democratização da USP”, inicialmente assinado por professores atingidos pela repressão da ditadura militar, denunciou a “prática autoritária (que) se manifesta não apenas na inadmissível preservação e utilização do regimento disciplinar de 1972 para apoiar perseguições políticas no interior da Universidade, mas também (i) na reiterada recusa da administração central da USP em reformar o seu estatuto antidemocrático, mais afeito ao arcabouço jurídico da ditadura militar do que à Constituição Federal de 1988; (ii) na forma pouco democrática das eleições dos dirigentes da USP, que assume sua forma mais absurda no processo de escolha do reitor por meio de um colégio eleitoral que representa menos de 1% da comunidade universitária; (iii) na ingerência do governo do Estado na eleição do reitor desta Universidade; (iv) e, mais grave ainda, na recorrente mobilização da força policial-militar para a resolução de conflitos políticos no interior desta universidade, tal como ocorreu, recentemente, na desocupação da reitoria da USP”.

Diante desse vendaval, a Reitoria da USP anunciou que, no próximo ano, a Cidade Universitária contará com um novo sistema de iluminação, com mais de sete mil pontos de luz espalhados por todo o campus, “o que representa mais do que o dobro dos pontos existentes na área atualmente”... Já não era sem tempo. A PM, por sua vez, continuará no campus Butantã, provavelmente incrementada, ou seja, teremos a partir de 2012 uma repressão “bem iluminada”.

Para Renato Janine Ribeiro (em artigo no Valor Econômico), “temos na USP um conflito áspero entre quem quer uma universidade "democrática" - entendendo por isso a eleição de seus dirigentes pelos professores, alunos e funcionários, mas não pelo povo (demos em grego, lembremos) - e os que têm como principal questão a qualidade da pesquisa. Quem quer qualidade se incomoda com a retórica da eleição direta, demasiado politizada”. Entendemos que se trata de uma visão estreita e, até certo ponto, defasada.

A quebra de uma situação em que o reitor precedente “fazia seu sucessor” pelo governador Serra, que escolheu o segundo indicado da tradicional lista tríplice (quebra apontada por Renato) foi mais que um mero detalhe: ela marcou a passagem de um governo “meritocrático” (não democrático) hegemonizado pela categoria de professores titulares de algumas áreas, para um governo burocrático-autoritário impingido pelo governo (tucano) paulista, que “politizou” a questão da pior maneira, mas decisivamente. A PM, que, segundo Renato, é só “pretexto, sintoma ou álibi”, é, ao contrário, exatamente o nó da coisa. A questão da democracia universitária não se restringe à questão da eleição do reitor (ou dos diretores de unidade), e se vincula umbilicalmente com a autonomia, de cuja violação a PM não é “símbolo”, mas braço executor.

Renato se surpreende pelo fato de que, ao levantar a questão da eleição do Reitor no CO (Conselho Universitário), “metade dos que falaram defendeu uma estatuinte”, que não estava na pauta, surpresa que revela sua incompreensão. A estatuinte poria em questão a estrutura de poder, não só “interna”, mas também no que diz respeito à relação Universidade-Estado-Sociedade. Não é palavra nem instrumento mágico. Ela poderia unificar todas as categorias (professores, funcionários, estudantes) para dar uma saída à crise da USP, não por instaurar a concórdia universal, mas por escancarar o conflito interno (que começaria pela discussão acerca da composição da própria estatuinte, isto é, a percentual da representação de cada categoria na mesma, sem falar na própria representação da sociedade) na perspectiva de uma saída positiva.

Projetos de universidade poderiam se confrontar em um debate público. A sociedade civil poderia, finalmente!, saber o que se faz e o que acontece nessa mítica (e mística) “ilha de excelência” chamada USP. Democracia não é a supressão do conflito, mas sua explicitação plena, dentro de normas aceitas por todos. E autonomia não é carta branca para se fazer o que se deseja fora de qualquer controle social, em nome de um saber legitimado pela própria entidade autônoma.

Pelo lugar que ocupa na sociedade paulista (e brasileira) e até no imaginário nacional, pelos recursos econômicos e intelectuais que concentra, pelo seu papel de espelho e liderança no “sistema (?) universitário brasileiro”, a crise da USP ultrapassa largamente seus muros. A questão da USP é parte do debate acerca do presente e do futuro do país, do papel da Universidade nele, e concentra naturalmente a atenção de todas as classes e representações sociais e políticas. A despolitização reacionária pretendida pelas atuais autoridades está, claro, a serviço de uma política que não ousa dizer seu nome. O desafio posto pela atual crise da USP é o de pôr todos seus protagonistas à altura dos problemas que ela, objetivamente, suscita e coloca para o Brasil.



Osvaldo Coggiola é historiador, economista e professor da Universidade de São Paulo




Notas do autor:

[1] Um professor da Escola de Engenharia da USP de São Carlos enviou carta ao Reitor pedindo "processos administrativos, e se necessário, judiciais" para quatro professores que tinham assinado um artigo solidário com a greve dos estudantes. O Grêmio Politécnico realizou um plebiscito em urna entre os alunos da unidade, com alegados mais de 800 participantes, que: em 73% não repudiaram a ação da PM na reintegração de posse da Reitoria; em 72% são contra a retirada de processos contra estudantes; em 79% são contra a liberdade aos presos pela invasão da Reitoria; em 79% são contra a bandeira “Fora PM” da greve de 2011; em 88% são favoráveis à ampliação dos circulares e serviço até o metrô; em 71% são favoráveis à campanha “10% do PIB para educação pública”; em 81% são contra a greve dos estudantes...

[2] Com uma população quase oito vezes menor que a dos EUA, o Estado de São Paulo registrou 6,3% mais mortes cometidas por policiais militares do que todas as mortes por ação das forças de segurança nos EUA em cinco anos. A polícia do Estado de São Paulo prendeu 348 pessoas para cada morte em 2008; a polícia norte-americana prendeu mais de 37 mil pessoas para cada morte em suposto confronto no mesmo ano. Dados divulgados pela Secretaria de Segurança Pública revelaram que 2.045 pessoas foram mortas em São Paulo pela Polícia Militar em confrontos - registrados como resistência seguida de morte - entre 2005 e 2009. A Polícia Militar é força auxiliar do Exército.

[3] Certamente, a repressão interna e externa não é patrimônio da USP no país. Paralelamente ao conflito uspiano, uma greve (professores, estudantes, funcionários) se desenvolveu em Rondônia, na universidade federal desse estado, contra graves irregularidades administrativas (incluída a contratação de parentes do reitor como funcionários-fantasmas) e autoritarismo político interno. Homens encapuzados chegaram a ameaçar um dos líderes da greve: “Você vai morrer”. Durante a greve, a 21 de outubro, o professor Valdir Aparecido de Souza foi preso pela Polícia Federal; em 4 de novembro o professor Fabrício Moraes de Almeida sofreu um atentado, tendo o carro atingido por uma pedra com bilhete de ameaça; no mesmo dia, dois alunos foram detidos pela PF, acusados de injúria e levados a prestar esclarecimentos na delegacia. A detenção aconteceu fora da universidade. Os alunos foram liberados depois de assinar um termo na delegacia; os panfletos que levavam foram apreendidos. A 16 de novembro, um bilhete de ameaça a professores e alunos foi colocado por baixo das portas dos departamentos, laboratórios e banheiros do campus da UNIR. A greve concluiu com a renúncia do reitor José Januário Oliveira Amaral. No Amapá e no Pará, dirigentes sindicais universitários estão sendo indiciados no MPF e na Policia Federal.

[4] A assembleia dos estudantes do Instituto de Economia da UNICAMP, realizada no dia 17 de novembro de 2011, deliberou que o ex-governador José Serra fosse declarado persona non grata do Instituto.

[5] Um grupo que acampou, por decisão própria, em um dos espaços da FFLCH, comunicou que “o movimento partiu de um grupo de estudantes autônomos com a intenção de potencializar as atividades de greve através da construção de um espaço comum de convivência intensa. O objetivo deste espaço é permitir que o debate acerca das questões que envolvem a greve dos estudantes possa ser aprofundado em um espaço de discussão e livre expressão. Os acampados não têm reivindicações que condicionem a sua permanência ou saída, pois este movimento será sustentado enquanto esse espaço de convivência faça sentido para os seus participantes”. Como apontou corretamente Rodrigo Ricupero: “A maioria dos professores tem dificuldade de entender a atual organização dos estudantes, com seu questionamento das instâncias tradicionais do movimento (CA’s, DCE, representação discente, etc.). A maioria da juventude mobilizada tem uma enorme desconfiança da representação. Se antigamente bastavam as lideranças dos grupos políticos falarem, para as assembléias tomarem suas deliberações, hoje (na USP diria desde a greve de 2002 pelo menos) todos querem falar, todos querem opinar e agir. Os estudantes querem testar todos os métodos de luta. Isso talvez explique o esvaziamento, por exemplo, da figura dos representantes discentes e a força das assembléias”.

[6] Michael Löwy apontou, em entrevista, o óbvio: “Há uma relação de desconfiança dos estudantes em relação aos sindicatos e, sobretudo, aos partidos... Longe de serem manipulados pelos sindicatos, esses movimentos de protesto têm grande autonomia. Eles buscam estabelecer a aliança, mas não no sentido de se tornarem apêndice dos sindicatos. Com os partidos políticos é mais complicado, porque a desconfiança é maior”.

sábado, 3 de dezembro de 2011

2011 VAI DEIXAR SAUDADES...

Que ano o de 2011!
Foi o ano das grandes manifestações sociais mundo à fora. Algum fenômeno social está em ebulição.
A Europa está em crise e tira o sono das grandes potências econômicas e militares.
Já somos mais de 7 bilhões de habitantes a procura de trabalho, comida e água para beber. Haja espaço e alimentos para tanta gente, e nós, já sabemos que milhões morrem de fome todos os dias.
Chama a atenção 2011, pelo que acontece no mundo árabe, Líbia e Egito, na Espanha, Portugal e Itália. Povo nas ruas sem bandeiras de Partidos Políticos e nenhuma identificação com Centrais de Trabalhadores e Organizações Sindicais.
Agora, o que chama mesmo a atenção é o que está acontecendo nos EUA, a maior potência econômica e militar do Universo, a casa grande do capitalismo.
O povo americano, afetado pela crise, vai para as ruas, tal e qual acontece na Europa, protestar veementemente contra um regime capitalista que só contempla com privilégios uma pequena minoria de pessoas.
Creio eu, que seja a mesma situação dos europeus! Lá, as forças policiais de repressão, baixam o pau nos manifestantes sociais, provocando a indignação do Presidente Barack Obama, que manifesta contrariedade por tamanha atitude dos governantes europeus.
Tenha a santa paciência "seu" Presidente, mas o que está acontecendo na Terra do Tio Sam, não é a mesma situação? O Srº, por acaso, não mandou baixar o pau nos manifestantes americanos, que protestam democraticamente contra esse sistema de produção excludente.
Pimenta nos olhos dos outros é...
2011 vai deixar saudades.

FORMIGA INDIGNADA



Era uma vez, uma formiguinha e uma cigarra muito amigas.
Durante todo o outono, a formiguinha trabalhou sem parar, armazenando comida para o período de inverno.

Não aproveitou nada do sol, da brisa suave do fim da tarde e nem o bate-papo com os amigos ao final do trabalho tomando uma cervejinha gelada.
Seu nome era 'Trabalho', e seu sobrenome era 'Sempre'.
Enquanto isso, a cigarra só queria saber de cantar nas rodas de amigos e nos bares da cidade; não desperdiçou nem um minuto sequer...
Cantou durante todo o outono, dançou, aproveitou o sol, curtiu prá valer sem se preocupar com o inverno que estava por vir.


Então, passados alguns dias, começou a esfriar.
Era o inverno que estava começando.

A formiguinha, exausta de tanto trabalhar, entrou para a sua singela e aconchegante toca, repleta de comida.
Mas alguém chamava por seu nome, do lado de fora da toca.

Quando abriu a porta para ver quem era, ficou surpresa com o que viu.
Sua amiga cigarra estava dentro de uma Ferrari amarela com um aconchegante casaco de vison.

E a cigarra disse para a formiguinha:

- Olá, amiga, vou passar o inverno em Paris.Será que você poderia cuidar da minha toca?
E a formiguinha respondeu:
- Claro, sem problemas! Mas o que aconteceu?

- Como você conseguiu dinheiro para ir à Paris e comprar esta Ferrari?

E a cigarra respondeu:
-Imagine você que eu estava cantando em um bar na semana passada e um produtor gostou da minha voz.
Fechei um contrato de seis meses para fazer show em Paris...
A propósito, a amiga deseja alguma coisa de lá?


Desejo sim, respondeu a formiguinha.
Se você encontrar um tal de La Fontaine (Autor da Fábula Original) por lá, manda ele ir para a Puta
.........!!!


Moral da História:
Aproveite sua vida, saiba dosar trabalho e lazer,
pois trabalho em demasia só traz benefício em
fábulas do La Fontaine e ao seu patrão.
Trabalhe, mas curta a sua vida.
Ela é única!!!
Se você não encontrar a sua metade da laranja, não desanime, procure sua metade do limão,
adicione açúcar, pinga e gelo, e...
Seja feliz !

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

A LEBRE E A RAPOSA

A lebre perguntou à raposa:
- Que é que levas no teu saco, ouro ou mais uma peça? Pois teu nome significa lucro muito mais do que astúcia?
- Se queres saber - disse a raposa -, vem até minha casa, convido-te para jantar.

A Lebre acompanhou a raposa até sua toca: lá, não havia nada para jantar a não ser a lebre. Esta declarou:
- Como aprendi com minha própria desgraça, sei agora de onde vem teu nome: de tua astúcia e não de teus lucros.
Curiosidade além da conta é fonte de grandes desgraças.
(ESOPO - Século VI a. C.)

O PENSAMENTO DO DIA

O HOMEM É UM VEÍCULO ORGÂNICO MOVIDO POR INTERESSES.

UMA GUERRA SOCIAL NA EUROPA

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

CAROS AMIGOS

Prezados (as),Saudações.
Já está nas bancas a nova edição da Caros Amigos. Destacamos na capa a entrevista exclusiva que fizemos com o embaixador Samuel Pinheiro Guimarães, ex-secretário-geral do Ministério das Relações Exteriores no governo Lula e atualmente Alto Representante do Mercosul. Ele faz uma ampla análise da política exterior do Brasil, defende as mudanças adotadas pelo Itamaraty nos governos Lula e Dilma e rebate críticas ao papel do Brasil no Haiti e na América Latina.
O embaixador conta que se filiou recentemente ao PT, que se considera politicamente de esquerda e que não é anti-americano, mas a favor dos interesses brasileiros.
Outra excelente reportagem mostra que o plano de reforma agrária do governo federal foi totalmente abandonado pela atual gestão, que em 2011 foram assentadas pouco mais de seis mil famílias – um número ridículo diante das 180 mil famílias acampadas à espera de um pedaço de terra para trabalhar. O mais grave é que o próprio INCRA já cadastrou grandes propriedades rurais com área superior a 130 milhões de hectares improdutivos – e que poderiam ser desapropriados para novos assentamentos.
Também relacionada com a questão da terra, outra reportagem relata – com precisão e detalhes – como está a situação, hoje, no município de Anapu, no sul do Pará, onde ocorreu há seis anos o brutal assassinato da missionária Dorothy Stang, conhecida defensora do manejo sustentado da floresta. De novo, após a retirada da Polícia Federal da região, o ambiente em Anapu é de grande tensão, entre grileiros, madeireiros, posseiros e trabalhadores rurais. Uma verdadeira bomba prestes a explodir.
Destacamos também, nesta edição, uma reportagem e dois ensaios fotográficos sobre a onda de protestos contra o capitalismo, desde o 15-M, na Praça Porta do Sul, em Madri, até o 15-O, que realizou manifestações em mais de 900 cidades pelo mundo afora, inclusive em São Paulo, e em Bruxelas, na Bélgica, onde aconteceu um encontro internacional de manifestantes. Está claro que existe um ambiente internacional de descontentamento generalizado do modelo econômico neoliberal e dos regimes ditos democráticos, mas que na prática não dão a menor bola para as demandas democráticas dos povos.
A Caros Amigos contempla outras reportagens, entrevistas, artigos e análises de excelentes colaboradores, entre os quais Joel Rufino dos Santos, Renato Pompeu, José Arbex Jr., Sérgio Vaz, João Pedro Stedile, Emir Sader, Gershon Knispel, entre outros. Veja também o perfil de Milton Babosa, conhecimento militante da luta antirracista, e o belíssimo artigo do historiador Mário Maestri sobre o historiador argentino León Pomer.
Uma edição memorável. Vale a pena conferir.
Abraços.
Hamilton Octavio de Souza
Editor

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

SEM MAIS DELONGAS


CAPANão dá mais para adiar: o Brasil precisa enfrentar e desmontar
o oligopólio da mídia. Já está claro, para boa parte da sociedade,
que o aperfeiçoamento e o funcionamento da democracia
– mesmo nos marcos do capitalismo – pressupõem a democratização da comunicação social.

O modelo vigente de concessões da radiodifusão possibilita a
concentração de emissoras de rádio e TV nas mãos de alguns poucos grupos empresariais, os quais controlam a informação, restringem a liberdade de expressão, influenciam decisivamente na vida cultural, política e social do povo brasileiro. Mais do que isso: o atual sistema burla a vontade popular expressa na Constituição de 1988 e representa uma ameaça efetiva para a diversidade cultural e política.

A sociedade brasileira é testemunha do partidarismo e da manipulação dos meios nas eleições. Não faz o menor sentido que
o serviço público de radiodifusão, operado mediante concessão,
seja utilizado por interesses particulares para favorecer partidos
e candidatos do agrado dos grupos econômicos, religiosos e políticos.Está na hora do Brasil aperfeiçoar os critérios de controle
social da mídia.

A sociedade é testemunha, também, do uso dos meios para criminalizar os movimentos sociais, as populações negras, faveladas e pobres em geral. Há muito tempo que a grande mídia tem sido conivente com as violências do Estado contra os segmentos populares, ao mesmo tempo em que sonega e omite informações e fatos relevantes para o desenvolvimento nacional.

A edição especial da Caros Amigos fornece aos leitores
uma coletânea de reportagens e artigos sobre a atual situação
da comunicação, aponta os grandes nós e desafios, compara com
as saídas construídas em outros países e mostra as várias alternativas e frentes de luta para melhorar, aperfeiçoar e – principalmente – democratizar o sistema de comunicação no Brasil.

Esperamos, com isso, contribuir para a reflexão e o debate.

A edição especial está nas bancas! Vá em frente!


Revista Caros Amigos

Assine Caros Amigos

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

LUIS FERNANDO VERÍSSIMO PENSA EM PARAR DE ESCREVER

Aos 75 anos, o escritor diminui o ritmo e diz que está mais para depressivo do que para bem-humorado. O escritor LuisFernando Verissimo é famoso por seus textos de humor e pelas sátiras de costumes que publica em jornais de grande circulação. Comédias da Vida Privada, uma antologia de crônicas engraçadíssimas, publicada em 1994, por exemplo,virou até uma série da TV Globo em 1995. Por causa desse talento em fazer rir, fica difícil acreditar quando o próprio autor afirma que não tem vocação humorística. "O que eu tenho é a técnica para escrever textos divertidos", diz ele. "Mas meu jeito de ver as coisas está mais para depressivo", completa. De fato, esse lado depressivo do escritor não aparece em suas obras (são, ao todo, 500 mil exemplares vendidos no País). Seu último livro, Em Algum Lugar do Paraíso, é composto por 41 crônicas, a maioria delas publicada nos últimos cinco anos, no jornal O Estado de S. Paulo. Verissimo, aliás, vem diminuindo o ritmo de sua produção. Reduziu, já há alguns anos, o número de jornais para os quais escreve - se antes, chegou a publicar em dez periódicos, hoje concentra-se em três: O Globo, Estado e Zero Hora. E pensa, inclusive, em se aposentar."Penso em parar de escrever. O problema é que o dinheiro que ganho com os direitos autorais dos livros não é o suficiente para garantir minhas contas."Os leitores, aliás, já podem notar sua ausência em eventos literários. "Vou a lançamentos mais por causa da editora. Não é por prazer, pois sou caseiro e evito badalações", conta. De onde vem, então, a inspiração para os textos se ele tem se mantido mais reservado? "Às vezes, de um filme ou de uma música", diz. "Aliás, eu preferiria ser músico a escritor", revela ele. "Mas como eu escrevo melhor do que toco saxofone, vamos deixar as coisas como estão."Na casa do escritor, em Porto Alegre (RS), num porão de pedra, há vários instrumentos. Curiosamente, apesar da paixão pelo jazz, não há sequer uma crônica em sua nova obra cujo tema seja a música. No livro Em Algum Lugar do Paraíso, o autor repete a fórmula já consagrada em seus trabalhos: a de abordar situações cotidianas. Algo que faz, inclusive, em seus cartuns. Vem dessa última abordagem um dos textos mais inspirados da obra. Em Cafarnaum fala do encontro entre Guizael, dono de uma taberna, e um homem capaz de multiplicar peixes e pães, e transformar água em vinho. A história - contada em linguagem textual similar à bíblica - desenvolve-se quando Guizael tenta convencer o homem a fazer uma parceria financeira com ele. Outro destaque é Microfone Escondido, em que o casal Leonor e Ataíde resolve esconder um aparelho desses no elevador do prédio só para descobrir o que os amigos pensam deles. Toda vez que fazem um jantar para um casal de convivas, há uma nova descoberta, revelada pelo microfone antes destes chegarem ao apartamento ou quando estão descendo o elevador rumo à rua. O resultado é um sucessão de confusões e mágoas, temperada pelas construções simples (mas não simplistas) e certeiras do escritor.Por meio do humor,o autor acaba desvelando as idiossincrasias humanas. Em Pato Donald, Sérgio e Dulce, casados há 25 anos, reveem suas vidas quando o homem conta que, apesar de ter rido a vida inteira das piadas do personagem americano, admite que nunca entendeu patavinas do que ele falava. A confissão ganha, então, ares de crise existencial. E, enquanto discutem, Dulce fica preocupada, porque o zíper do vestido que sempre lhe coube está difícil de fechar.Outro exemplo interessante de narrativa é Versões. No texto, um homem entra em um bar e começa a imaginar o que teria sido de sua vida se ele tivesse feito um teste para jogar no Botafogo. De repente, surge, ao lado dele, uma versão de si mesmo que fez o tal teste. As perguntas se multiplicam e, consequentemente, mais versões dele aparecem. Nessa crônica,Verissimo toca num de seus assuntos mais caros: o futebol. Torcedor do Internacional e da Seleção, ele se preocupa com a Copa de 2014 no Brasil."Espero que as obras fiquem prontas a tempo." E fala que irá aos jogos. Até lá, terá 78 anos, Vale torcer para o pique se estenda também à escrita. Ou a literatura ficará órfã do depressivo mais bem-humorado de que se tem notícia."Em Algum Lugar do Paraíso"Luis Fernando Verissimo Editora ObjetivaPreço: R$ 36,90